Quem

De onde vem e pra onde vai esse trabalho?

Como uma semente brota em solo fértil, esse trabalho brotou na criatividade de Lucas Pitangueira, essa pessoa que vos fala, atual mediador desse processo colaborativo chamado Roda Ecossocial.

Dentre as várias aplicações que essa Roda pode ter, ela também é uma ferramenta de autoconhecimo e alterconhecimento. Assim, uso a própria Roda Ecossocial pra te contar um pouco da minha história, do caminho que fizemos até a sua criação e das possibilidades futuras que ela abre pra nós.

Eu nasci e cresci na Bahia, em Salvador, um lugar marcado por grandes diferenças. Com suas belezas e seus problemas, é minha Toxi-Cidade favorita.

Meus avós, de origem no interior da Bahia, fizeram o Êxodo pra Salvador e trabalharam na Indústria ou no Estado, estabelecendo uma vida típica de classe média urbana. Meus pais seguiram a mesma linha e eu também, ao menos nas primeiras décadas de vida.

Minha primeira formação profissional foi de Técnico em Edificações e trabalhei na Indústria da construção civil em obra, projeto e consultoria, principalmente na área de Acústica Ambiental, desenvolvendo soluções de arquitetura e engenharia no combate à Poluição sonora em cidades do Brasil.

Ao longo de 7 anos nessa área, lidando diretamente com o desenho urbano e o aparato social que o regula, constatei que o atual modo hegemônico de habitar é insustentável e o apelidei de Toxi-Cidades: lugares sistematicamente atravessados por problemas estruturais adoecedores.

Me frustrava fazer soluções paleativas, que não iam na raiz dos problemas. Para tanto, seriam necessárias reformas profundas, envolvendo muita demolição e reconstrução, tanto materiais, quanto imateriais.

Paralelamente, cursei o Bacharelado Interdisciplinar em Artes da UFBA e também atuei pelo eixo roxo do mapa com meus trabalhos de audiovisual e música, chegando a ser premiado em 2019 no Festival da Rádio Educadora FM da Bahia com melhor composição.

Contudo, o modo de vida urbano-industrial-capitalista estava me adoecendo e eu já não via sentido em trabalhar num sistema que também adoece o planeta. Assim, eu me perguntava: Como viver em Habitações e Territórios Sustentáveis?

Comecei a me aproximar fisicamente da metade Sul do mapa em 2016 quando conheci a Permacultura, através da Comunidade Campina. Lá, além de encontrar respostas práticas pra minhas questões, também encontrei boa companhia com pessoas profudamente engajadas em viver as transformações necessárias incorporando-as em nosso modo de vida e regenerando um território, em vez de destruí-lo. Saí de lá emocionado e com a certeza de que precisava voltar.

Me organizei pra fechar meus ciclos na cidade e em 2020 fui pra a Campina com intenção de ficar. Lá, trabalhei em centenas de mutirões de agroecologia, bioconstrução, lenha, cozinha, compostagem, comunicação, autogestão e até incêndio florestal apaguei! Foram tantas experiências que esses 2 anos valeram por 10!

Lá atravessei a pandemia e foi um período de muitas curas e aprendizados. Criei o hábito de estudar o que há de mais atual em várias áreas do saber, sobretudo nas ciências socioambientais, numa abordagem interdisciplinar e intercultural direcionada para as Culturas Regenerativas.

Um pedacinho da minha Biblioteca de Sobrevivência e Transição Ecossocial Frente aos Colapsos

A vida na Comunidade Campina tava ótima, mas nem tudo são flores. Me incomodava a sensação de estar numa bolha pequena, por isso senti uma forte vontade de expandi-la. Ao mesmo tempo, numa época de pandemia, fui tomado por uma fase introspectiva, repensando a vida, quem sou eu e onde me encaixo na sociedade. Essas perguntas me levaram de volta a Salvador e minhas raízes. Voltei pq senti que tinha deixado algumas pontas soltas. Eu precisava “cortar correntes e plantar sementes”.

Voltando minha atuação para o Eixo Roxo do mapa, iniciei uma licenciatura em artes e comecei a gravar o Triste Mente Colonizada, um álbum conceitual que reflete questões psicossociais dos nossos tempos.

Ao mesmo tempo, comecei a escrever Sol do Amanhã, uma história distópica que se passa em 2037 quando a Peste Pálida dizimou 99% da população humana, principalmente nas grandes cidades, sobrevivendo sobretudo povos indígenas, quilombos e outras comunidades sustentáveis. A trama acompanha uma comunidade ambientalista sobrevivente, mostrando seu modo de vida ecológico e os desafios que enfrentam antes, durante e depois da catástrofe num novo contexto socioambiental marcado por profundas transformações.

Ambos os projetos me levaram a expandir pesquisas e se desenvolveram artisticamente muito bem, mas foram descansar no forno, pois a Roda Ecossocial tomou a dianteira.

A semente da Roda Ecossocial germinou durante o lançamento do relatório “Conflitos no Campo Brasil 2023” da Comissão Pastoral da Terra, no auditório da OAB em Salvador-BA, onde cheguei como ouvinte. Com a participação de diversas lideranças e organizações, essa foi provavelmente uma das melhores “aulas” que já assisti.

Cartaz do Evento de Lançamento do Relatório “Conflitos no Campo Brasil 2023”. Fonte: https://cptba.org.br/comissao-pastoral-da-terra-lanca-caderno-de-conflitos-no-campo-brasil-2023-na-sede-da-oab-em-salvador/
Foto do Evento de Lançamento do Relatório “Conflitos no Campo Brasil 2023”. Fonte: https://cptba.org.br/comissao-pastoral-da-terra-lanca-caderno-de-conflitos-no-campo-brasil-2023-na-sede-da-oab-em-salvador/

À partir daí, esse mapa insistentemente apareceu em minha visão interna e sonhos, me levando a colocá-lo no papel e nas telas.

Levei um tempo quebrando a cabeça até encaixar as peças! A principal referência que me ajudou a organizar o mapa veio do livro “Design de Culturas Regenerativas”, de Daniel Wahl.

Fonte: Design de Culturas Regenerativas. WAHL, Daniel. Editora Bambual.

Quando encontrei um “todo artístico” coerente, compartilhei com pessoas próximas e do Coletivo InComUna, recebendo ótimas críticas construtivas que levaram ao aprimoramento do mapa.

Fui a um grupo de estudos no Centro de Cultura Social Maloca Libertária, sobre a tematica do colapso. Lá, em meio a discussões acaloradas, mostrei o mapa numa tentativa de mediar as discussões e percebi seu potencial enquanto ferramenta. Recebendo comentários construtivos do pessoal da Maloca, aprimorei o mapa e comecei a estruturar uma dinâmica de grupo.

Experimentamos a dinâmica pela primeira vez na Comunidade Campina, com resultados maravilhosos! Percebemos que era uma ótima maneira de gerar conversa entre as pessoas e promover transformações.

Atualizei o mapa, otimizei a dinâmica e, confiante de seu potencial, inscrevi na VIII Jornada de Agroecologia da Teia dos Povos na Bahia. Lá, o mapa foi apresentado tanto como trabalho científico-popular quanto como oficina.

Apresentação da Roda Ecossocial enquanto trabalho científico-popular na VIII Jornada de Agroecologia da Teia dos Povos na Bahia. Eixo 4 – Conflitos territoriais: ambiente, estado e sociedade. Fonte: https://www.instagram.com/p/DFgVD5AR0k2/?img_index=3
Apresentação da Roda Ecossocial enquanto trabalho científico-popular na VIII Jornada de Agroecologia da Teia dos Povos na Bahia. Eixo 4 – Conflitos territoriais: ambiente, estado e sociedade. Fonte: Foto por Lucas Pitangueira
Apresentação da Roda Ecossocial enquanto oficina na VIII Jornada de Agroecologia da Teia dos Povos na Bahia. Fonte: Foto por Luciana Sarno
Entrega do mapa para lideranças da Teia dos Povos na VIII Jornada Agroecológica da Bahia. Na foto: Joelson Ferreira e Lucas Pitangueira.

O trabalho foi bem acolhido na jornada, fortalecendo o tecer dessa Aliança Popular. À parti daí, várias portas se abriram, com convites para as mais diversas aplicações. Aprimorei a Roda conforme comentários recebidos e criei esse site para ampliar a divulgação.

Nesse ponto, decidi convidar as pessoas que fizeram contribuições relevantes ao longo do processo, reunindo um Conselho com objetivo de pensar em conjunto e deliberar sobre os próximos passos da Roda Ecossocial. Além disso, criamos um coletivo, abrindo espaço para que outras pessoas também colaborem conosco.